quinta-feira, 12 de outubro de 2017

prédios vazios, pessoas na rua

Ainda com um gigante nó em minha garganta e muito comovida com a situação de tantas famílias retiradas de seus lares, à base da violência e da crueldade, na calada da noite gélida. Ainda, e cada vez mais, indignada com os que defendem e sustentam o que aconteceu na ocupação Lanceiros Negros e com as suas 70 famílias, ouso rabiscar algumas linhas. 
Do alto dos meus privilégios, consigo, ainda, mirar e olhar. Olhar e compreender que há um incrível problema de distância naqueles que não conseguem perceber tamanha brutalidade no que assistimos na noite passada e no dia de hoje. Tão perto e tão longe, essas pessoas estão/são. Não as conheço, nunca as vi... Mas são pessoas. Gente que trabalha e luta para sobreviver nesse estado cão, que as retira do pouco que ainda resta: seu teto. São famílias, são bebês, são crianças, são mulheres grávidas, são idosos... Seres humanos, como eu e como tu.
Talvez o problema de quem não os reconheça como cidadãos, como pessoas, como sujeitos de direitos, seja de posição. Posição na vida mesmo. Estes, quem sabe, sejam os mesmo que ladram por ai que “bandido bom é bandido morto”. Que estão acima do bem e do mal, acham correto julgar e punir pelas próprias mãos, que consideram quem não tem mais opções como desocupados e vagabundos. O problema da posição de DEsumanizar o outro, que não seja ele mesmo e seus familiares.
Talvez seja a luta de classes se materializando de modo inescrupuloso e ardiloso. Afinal, para que(m) servem pobres morando no centro da cidade e se mobilizando em transformar suas vidas? Há também o problema do direito. Ninguém pode tirar meu direito de ir e vir, quando há uma manifestação. Aos juristas da internet e da vida, que sentenciam, de barriga cheia e pés quentinhos, que ninguém tem o direito de invadir propriedades privadas ou, nesse caso, prédios públicos (abandonado há 12 anos), saibam que MORAR é um direito fundamental, assegurado pela constituição federal. Esse direito, de todos não só de alguns, é reconhecido pela ONU entre os direitos humanos.
Direitos Humanos, essa expressão tão citada e tão pouco praticada. Incompreensivelmente, a letra E de egoísmo chega antes, quem sabe, para essa fatia da pirâmide que deu certo. Os outros que se lixem, ou melhor, que vivam na condição de lixo. Tantos prédios e espaços vazios na nossa cidade abandonada e tantas pessoas sem um teto para cobrir seus corpos e, mais do que isso, para (re)existir. Pode ser, quiçá, um problema matemático, de lucro e imobiliário. As causas e as nuances são muitas. As arbitrariedades inconstitucionais também. Assim como na ditadura, os lares foram violados à noite! Lares são invioláveis, segundo o Art 5º. A ordem era retirar os invasores. A sentença era, por definição, sair. Ninguém sabe para onde e como.
Entre as famílias que moravam neste prédio, estavam 34 crianças - 6 delas bebês.

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