domingo, 28 de fevereiro de 2016

invisível


Lacunas e fendas,
buracos de olhar.
Espia pelo olho mágico:
uma projeção,
uma distorção!
Teima, queima, beira na borda.
Bordas de sanidade.
O resto se revela, quem sabe, mais tarde!
Para, trava.
Entrave paralisador.
Saberei, um dia, o tamanho de sua dor?
Calo, retalho,
num silêncio de quase morrer!
Quem é louco o bastante para responder o que o outro deve fazer?
Um espetáculo armado:
Olhares isolados, nenhum verbo trocado.
Reduz
Traduz
Produz um falso outro
Fim do beco!
Só eco de uma mesma voz.
No ponto cego da vista,
do auto de uma mira impossível:
O outro é invisível.


desabafo

É um tanto de pranto,
um nó na garganta,
uma dor nada à toa.
que embarga as palavras,
sou nada.
De não ter as assas para voar.
Pés que não fazem chegar.
A vontade do abraço,
um sustentar pelo laço.
Um chão sem suporte,
o horizonte é tão longe.

Ohana


Quando pequenas, tínhamos por hábito e quase paixão assistir filmes juntas. Toda semana podíamos escolher um na locadora do bairro ou íamos ao cinema. Foi uma herança maravilhosa que recebemos da nossa mãe. Mesmo as histórias, aparentemente, mais simples poderiam nos oferecer algum conteúdo complexo. 
Hoje, as narrativas que lemos ou que as assistimos ainda estão de algum modo dentro de nós. Como na metáfora, de Diana Corso, sobre pequena caixa de ferramentas de conteúdos subjetivos. Nossas histórias, às vezes, cruzam com fragmentos desses repertórios. Dilemas, sentimentos, medos e alegrias das telas e linhas que nos ajudam a compreender e elaborar as nossas cenas.
Lilo e Stitch, já naquela época, nos fez chorar ao nos mostrar que família é ser e estar junto. É importar-se. Parece bobo, mas a gente sabe bem das dores e das delícias de se saber Família. E, a cada confirmação disso, o amor se multiplica.
"Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer." (Lilo e Stitch)
Para cada tropeço, um recomeço. 
Para cada passo, um abraço.

navega a dor

Nas ilhas de emoção,
Resistem fragmentos de razão.
Arquipélagos que são de dentro, 
Banhados por um mar. 
Ora é a calma, ora é a tormenta:
Movimentos da vida.
Marés de amor,
Não tem bússola, o navegador.
Paradoxo da saudade:
Se estou aqui, sinto falta de lá. 
Se estou lá, sinto falta daqui. 
De amor e saudade, eu sempre sofro um pouco.

Quase tudo é véspera...


Hoje a noite, ao sair da primeira reunião com pais do ano, não pude deixar de reparar que a lua estava ainda mais deslumbrante. Parece até que atingiu o limite da exuberância! Magnética.
Amanhã a lua estará cheia. Inteira e confortávelmente redonda ao nosso olhar. 
Hoje é a véspera. 
Sempre a espera, o caminho e o processo. É sempre um devir. 
O que a lua tem a ver com o primeiro dia? Não sei!
Só sei que amanhã é o dia, que depois virão outros, mais outros e ainda outros tão marcantes como "amanhã da véspera".
Esse tal frio na barriga novidadeiro, de um crescer para estar cheio e inteiro. E saber-se minguar e estar nova quando a vida demandar.
Para cada lua, uma véspera!
Para cada dia, um novo céu!