Primeiramente, preciso me posicionar e confessar
que amo uva passa e as como durante todo o ano. Misturadas na salada ou na
farofa: é minha ceia pessoal sem data especial. Vi algumas "campanhas"
recentes, nas redes sociais, contra as inofensivas bolinhas doces e suculentas.
(sim, elas são deliciosas quando bem preparadas).
Bueno, esse texto não pretende ser um texto culinário. É
que me "passa" uma metáfora também bastante divulgada e visualizada
nas telas: "tudo na vida passa, até a uva passa" ou "tudo passa,
tudo muda". A máxima de que "Nenhum
homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio... pois na segunda vez o rio já
não é o mesmo, nem tão pouco o homem!" Ou, na voz de
Lulu: “Nada do que foi será de novo
do jeito que já foi um dia. Tudo passa. Tudo sempre passará (... )tudo muda o
tempo todo no mundoooo!” (desculpa, também grudou no cérebro agora. Foi
inevitável!). “Amanhaaaaã...” (eu sei, essa foi terrível).
Essa coisa toda é pra dizer da
nossa necessidade em pensar na mudança. Dever ser para isso que tem sempre um “ano
novo”. Marcamos nosso tempo, demarcamos nossa história através dele. É preciso
saber que podemos nos transformar, não que devemos, mas que podemos. Penso num (des)Imperativo
do que vai passar... É sempre uma escolha. A dor passa se deixamos de gozar os benefícios
de ser vitima. A ilusão de uma paixão também passa quando nos olhamos fora do
espelho do Narciso. Novos hábitos podem surgir, quando nos damos conta de que “o passado é uma roupa velha que não serve
mais”.
Além de gostar de passas, sou
suspeita em falar sobre renovações porque minha vida é cheia delas. Pequenas
rupturas traduzem o que sou hoje. Minha vida podia estar dentro de uma caixa,
uma falsa caixa de presente, com certezas e práticas tradicionais e
conservadoras. Onde estava meu desejo? Quase foi isso. Não foi porque rompi meu
silêncio papelão, estou rompendo a cada dia... ”E não é fácil!” Acho que reside ai a importância do significante (Mu)dança. E como é bom dançar com a vida. Vez
ou outra, pisei no pé do partner,
tive o meu pisado também. Sai do ritmo e quase escorreguei. Mas logo vem outra música
e posso acertar o passo, novamente.
Tem coisas que mudam, que passam
e não fazem a mínima falta. Mas, tem coisas que permanecem e que nos deixam
seguros para que não nos percamos por completo nesse caos que a vida pode ser, às
vezes. Para mim, se no final do ano tiver família, música, boa comida, dança, reflexões
e uva passa, no “Amanhã está toda a esperança por menor que pareça...”. Por
isso, defendo a permanência da uva passa nas festas de final do ano. É uma
escolha comê-las ou não. “Quem não quiser que as separe”.