terça-feira, 23 de maio de 2017

Provocas


Tu me provocas quando qualquer pergunta é convite para pensar.
Me provocas ainda mais quando, num jogo de palavras, me faz gostar de estar.
Estar ali, não importa o lugar.
Tu me provocas quando tuas ideias são apenas compartilhar.
Me provocas ainda mais quando revela que o ser é mais importante que o ter.
Se for para ter que sejam as histórias  que nos trouxeram até aqui.
Tu me provocas quando a espera é respeito... Despertar de desejos.
Me provocas ainda mais quando, ao final, trocamos um beijo ou dois.
E, quando fecho meus olhos, me viro para o lado são os abraços que me faltam.
Tu me provocas a cada música, a cada resposta que, quase nunca, é sem pensar.
Me  provocas ainda mais quando te mostra e demonstra o quão fácil seria te amar.
Nas coisas em comum, nas pessoas, nas letras, nos passos:
Promessas de leveza!
Tu me provocas a provar.
Te degustar...
Corro sério risco de gostar..

domingo, 21 de maio de 2017

Tecituras



Seria tarde para acreditar no destino?
Um tear a fabricar meus dias, tecendo em noites os fios da minha vida.

Apertando, em nós, meu passado.
Como se, de fato, lá nunca estivesse estado?
Um lugar perdido, território isolado.
E eu sinto, em partes.
Como se não fosse obra de minhas velhas vontades, já tão esquecidas, dissociadas, esquisitas- para mim.
Nasceram outras e mais outras da minha escuridão.
Inacessíveis até tomarem conta.

De que valeriam os planos e os sonhos?
Me perdoem, os Deuses, se for ilusão:
Eu ainda teimarei em carregar a caneta da vida nas mãos.
Que assim seja, cada dia, escrita minha.

domingo, 14 de maio de 2017

Costuras



Pelas madrugadas, amanheceu um novo vício.
Não que seja meu ofício, costurar palavras nas tessituras que me dás.
Texturas em poesia, linhas em busca de sonetos.
É prazer o criar- mesmo com a ânsia pela malha que seguras em teus dedos.
É concreta e direta, a entrega.
Rica e melódica, a fantasia.
Não sei se o traje é de festa ou se estará na pele a autoria.
Sei que, quando fecho meus olhos, escuto tua música.
Já não tem mais tecido que possa abrigar a vontade de sentir.
Quero costura sem molde, pequenos pontos feitos a mão.
Delicadezas das rendeiras, desenhos e curvas para esculpir
A necessidade é incrível. Deito e estás ali.
Com tua biografia escrita em estampas.
Emudecidos, depois de tantas lembranças.
Somos silêncio, onde está a distância?
Bordas-me os cabelos, entrelaçados em teus dedos.
Enlaço-te as pernas, como se a partida fosse logo.
Costura de corpos, cerzidos por tuas mãos tão leves.
Não sei se é breve ou se é tênue o encanto.
No entanto, acordo e continuo sonhando.
Me belisco: estás aí?

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Me mudar

Estive pensando em mudar:
trocar de casa,
encontrar novas janelas.
Buscar uma alameda tranquila,
quem sabe até, uma casa de Vila.

Estive pensando em mudar:
fugir da cidade,
voltar para o interior.
Trocar as linhas,
experimentar novas línguas.

Estive pensando em mudar:
sair desse estado
de espírito.
Largar velhos hábitos,
pisar com outros  sapatos.

Estive pensando em mudar:
largar o país,
esse vício,
essa cachaça.
Transformar a letra do meu samba
Variar a melodia, compor em parceria.

Estive pensando em mudar:
descobrir  meus mundos.
Me pensar como um planeta.
Observar meus movimentos,
Te escrever cartografias,
meus mapas afetivos até então em segredo.

Estive pensando em mudar:
beberia mais água, abusaria do filtro solar, o dinheiro todo seria para viajar.
A televisão estaria só desligada, a estante de livros bem visitada.
Menos pacotes, mais cascas.
Quem sabe se eu mudasse, nem que fosse por partes,
passasse a agonia de viver sem fazer parte.