domingo, 22 de outubro de 2017

Vida é agora

(Quero)
A vida é agora
Simples

Felicidade, quando pequena,
Sexta feira.
(No dia em que dancei, em casa)
Mais nada me faz lembrar você.

Não esquenta no esquema:
Eu me libertei.
Que a vida é mais.
Não vou lembrar do nome
Do fone.
Fiz questão de esquecer
Você.

Perdoei meus defeitos nos seus erros
E não é já o adeus.
Triste fim história
Não é  para sempre
Felizes
São só nós
deu.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Janela da espera



Naquela casa tão grande, aos meus olhos ingênuos, havia uma grande vidraça.
Era uma janela  muito grande. Talvez, a maior de todas até aquele dia.
Ali, eu passava boas horas de minhas tardes observando quem passava.  Via as trilhas de formigas invadindo a casa, carregando pedaços das pétalas das rosas plantadas pela minha avó.
Era um lugar especial e triste.  Dali, eu via o campo do grêmio, via os prédios altos do centro da cidade, imaginava descer de skate pela rampa do centro administrativo...
Via a cidade, percebia as chegadas e as partidas. Era um constate ir e vir. Quem saía, quase sempre voltava.
Ali do alto, muitas vezes minha torre, eu esperava.  Imaginava que qualquer dia ele apareceria de surpresa. Não precisava trazer nada. Só precisava chegar e ficar um pouco. 
Muitas vezes, eu sonhava essa cena de olhos abertos. Em silêncio porque aquele sentimento não cabia nas palavras que eu conhecia.
Não sabia o nome, mas sentia. Uma ou outra vez, o telefone tocava.  Domingo podia ser o dia... aí era um misto de alegria e de tristeza.  Eu me partia.  Ouvir aquele som estridente era sinal da distância.  Era a sina de quem não sabia como era conviver.  De quem nunca se acostumava em receber em retalhos.
Afeto não faltava.  Eu transbordava a presença de muitos. Tios, dindos e avôs que se empenhavam em oferecer a presença. O que é uma criança sem esse presente?
Como toda a história de ausência, há quem se desdobre para  as lacunas dos nãos.
Mãe que é em dobro e que não se cansou nunca de dar colo e enxugar o pranto da tristeza e da raiva. Raiva de não se sentir merecedora do amor. A vida foi. Foi generosa. Passos e estradas cruzadas. Tudo foi indo... sem, de fato, ser inteiro.
A janela da espera continua aberta. Ela não é mais infinitamente escancarada. Com o tempo, e por medo, foi necessário o uso de grades. Por receio, e por falta de intimidade, as cortinas chegaram.
A janela de tantas quimeras é  feita de esquecimentos e de lembranças. De saudades do que poderia ter sido. Será que faltou coragem?
A minha janela ainda guarda esperança de que um dia chegue, pode ser sem avisar, o perdão e outra chance para resgatar o que ficou lá.
E que de vez em quando volta em sonho, compreensão  e choro.

Deixar para depois
para o depois ter passado. 
É que há muito passado nessa falta de presente. 
Tarde demais! 
In(feliz)mente: obra do inconsciente.

lua

Pela janela, ela espia: 
Nem tão tímida, nem tão atrevida. 
Suficientemente bela para ser percebida.

Quem foi?

Quem foi? 
Tinha o sol que correr e se esconder,
desenhando em moldura teus rastros? 
Fez da brincadeira um quadro. 
E, em mim, o desejo de ter visto o autor no cenário. 
É verdade: fugir é um dos grandes prazeres.
Melhor é quando sobes os degraus de volta e teu olhar diz que estás feliz.
Sorrindo com olhar, os dias a melhorar.

esperança

Pode cair a noite sem estrelas para ver...
que eu não sei amanhecer sem esperança.
Já não seria viver.

diálogo

Estava fresquinho sob as árvores, o som era de crianças, de balanços e de pássaros. Um tarde boa de ser vivida!
Nutro um gosto de conversar com as crianças e procurar as respostas delas. Às vezes, elas não querem responder. Me dão as costas e saem. Silêncio também tem sentido, penso assim. Quando respondem de pronto, algumas vezes é para se livrarem logo e irem correr, já saquei!
Existem dias que as perguntas que demoram um pouquinho... Porque retumbam.
Havia perguntado a uma criança, que inaugurou recentemente seu terceiro ano de vida, se eu era criança ou adulta. O que ele pensava sobre isso?
A resposta veio no balanço, na brisa e na sombra da pergunta:
"Claro que tu é adulta! Tu é adulta como eu. Adultos fazem coisas grandes."
( Com a mãozinha colocada sobre o peito e um olhar de certeza)
Na hora me veio Fernando Pessoa! E soou como o maior reconhecimento que qualquer professora pode ter.
As crianças podem ser pequenas, mas por serem tão inteiras em tudo o que fazem são grandes.
Nem sempre se acerta, mas ser inteiros e verdadeiros é a busca!
E, como dizem outras crianças, somos médios. Nem pequenos e nem grades demais: "ainda estamos crescendo" pela vida e com os outros!
"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa

Tempo é vida


Eu vi um menino passando. Vinha com sua mãe, passos leves de quem tem a tarde para brincar.
Fiquei olhando, lembrando de suas primeiras palavras, seus tombos, seus medos e de tantas alegrias juntos.
Minha memória não falha para assunto "de gente". 
Veio nos olhos aquela ardência de choro ao sentir aquela mão, já um pouco crescida, tocar meu rosto para me beijar. Mão que um dia suava frio, entrelaçada na minha, para dar tchau para a mãe. Agora está lá, escrevendo seu nome!
Tempo é vida. Eu espero para ver...

descoloridos

Num tempo de incertezas, 
restam poucas belezas. 
Do certo ao duvidoso, um futuro nebuloso. 
Assombra-nos o cinza: 
Muros duros, ruas frias! 
Ainda querem nos tirar as pequenas alegrias?
Acordar, trabalhar, poupar.
Gastar-se!
Consumir-se!
Sem saber como será o envelhecer.
Lamentar pelos que menos têm.
Temer.
Temer pelo que ainda vem.
A esperança adormecida vai nos levando o colorido da vida.

Vou além


( Nando C. Pedroso/ Clara Coelho)
Vou além
Do que reserva a vida
Emoção que é sentida
Me confunde o saber
Porém,
Eu esperto de casos
Só me entrego aos abraços
Que podem aquecer
Fugas, teu desejo volátil
Teu sorriso tão fácil me fazendo culpar
Por ter provado o gosto da boca
Os vestígios na roupa de que já fomos um par
E, se acaso, nos encontrarmos não me olhes nos olhos
Não vou suportar.
Desejo, não ficou esquecido
Do gosto do beijo, dos carinhos e afins.
Saudade, eu levo no peito.
Mesmo fingindo que não gostas de mim.
Só quem tem uma chaga no peito, de um amor mal vivido
Pode julgar o que resiste em mim.
O tempo vai findando e a saudade vai reeditando: 
É eterno o dilema entre o aqui e o lá!
Sorri no florescer das novas manhãs
E perto de uma discreta felicidade 
de estar onde se quer! 
Dizem ser a liberdade...

Noticia boa


Aos que perderam as noites em delírios de pranto, a paz!
Paz do sono que abraça, sonha.
Aos que semearam cuidado e afeto, flores colhidas!
Flores colhidas enchendo o vaso, que a vida celebra.
Aos que rezaram e fizeram suas promessas, o renovar da Fé!
Fé no amor e na união, nos milagres que ainda virão.
Aos que souberam esperar e ver crescer, um raiar de sol!
Raiar de sol que aquece, preenche de alegria.
Aos que viveram com intensidade esse amor, que a vida é sopro, infinita felicidade!
Infinita felicidade que faz brotar dos olhos a beleza de ser grato.
Do medo à luta.
Da luta à vida,
que com esperança ela é ainda mais bonita

eco

São vidas que pulsam,
corpos que dançam,
balançam. 
Emoções que transitam, 
nos mil sons que nos habitam. 
É quase tudo novo, de novo.
Eu, aqui, ecoo

Deixados às nossas próprias sombras não podemos senão brincar com isso - imaginação!
Sob essa lua a sombra recai no dia.
Faz da noite, música.
Cordas caladas e macias. 
Soam e ecoam lembranças.
Ventania!

Saudade me arde


Eu vou vivendo, assim, como se saudade não fosse nada.
Passando meus dias, procuro não lembrar que a distância maltrata.
Tem dias que esqueço dos meus atalhos, me boicoto e olho tuas fotos.
Sinto teu cheiro, ouço teu riso, me doem os momentos:
de estar longe querendo estar tão perto
desses olhos morenos cheinhos de amor. 
Foi por acaso que eu a vi...
Punhos de poeta, tramando encontros
Toque por toque, palavra e sonho.
Por um segundo, sorri da calma, da profundidade do cotidiano.
Todo o domingo ela está ali... costurando passado e futuro.
Não sei nome, suas mazelas.
Escondida entre cestas, seu olhar só busca a menininha de blusa amarela.
Como saber o que da vida espera?
Quanto custa a macela?

Semente


E se soubéssemos esperar pelo germinar do outro? 
Quem sabe se pudéssemos ser generosos com a Terra tal qual ela é conosco?
Amar sem medida as pedrinhas, os galhos e as folhas caídas... 
Que tal, um dia qualquer, podermos ter os olhos a brilhar ao ver o florescer das crianças e dos ipês. 
Celebrar outonos, adubar encontros.
Talvez trocando os tempos: amanhã eu fui...
Ciclos de vida, lições das crianças.
SER semente!

Tempestade


Dentro do seu peito, pequenas chuvas todos os dias.
Sinais e pistas.
Quem a olhava, via. 
Num horizonte próximo, outras dores sentia.
Logo, não demorava a ventania...
Levantando tudo, carregando o que fosse.
Era singelo o segredo da calmaria:
Um abraço terno, um olhar pequeno.
Nada de alardes. Escuta e silêncio.
Ia com as folhas um pouco da agonia.
Virava o tempo, agora já sorria.

Sopro


A vida é um sopro,
isso todo mundo ouviu falar.
Mas que ela chega assim sem pressa, sem avisar: dói para aceitar.
Toda morte faz pensar que a gente morre a cada dia.
E os minutos são bálsamo de alegria:
um gole de vida ou um soluço embriagado.
Quem sabe ela chega aos poucos, fragmentado a vida. Reflita!
São as lágrimas contidas a cada despedida.
Os encontros sem o olhar.
Quando se come sem a fome.
Um olhar pro céu sem o luar.
Qualquer não que é dito por egoísmo ou por prazer.
Todo ato não pensado na dor e no porvir.
Quem sabe um dia tudo sentir?
Viver continuando os caminhos já trilhados.
Beber do vinho já provado... nunca tendo degustado.
Viver sem sentir, abraçar sem sorrir.
Deixar o pranto rolar se a morte chegar. Libertar!
O que nos resta? O agora é finitude.
O que sobra é a réstia do que amor foi.
Solitude.
Os olhos chovem quando, na despedida, há mais encontro do que partida. Encontro com o que um dia fomos e com a história que por nós foi escrita...
A certeza da eternidade do amor e da amizade pode trazer, enfim, a tranquilidade!
Sou grata pela vida!

Volver

Volver
Passa o tempo:
acho que já não sei.
Quando penso em escrever, ela vem. 
Troca em letras miúdas meus sentimentos.
Intensos!
Brinca com versos...
Transfere meus sonhos.
O arquivo salvo, o branco da folha esquecido
Eu, aqui, com o sono perdido!
Só amanhã para saber se voltei.
Nas voltas que a vida dá, todo o encontro é chance de se ver em outro lugar..
Vem a lua e me põe a pensar:
Quantas dobras da vida me farão recomeçar?
Se não for para mudar, valem os passos do caminhar.
Saudade é sintoma da concretude do amor. É a lembrança de que são os laços que dão sentido a existência. Ser, dificilmente, é sem o outro. 
Mudo o olhar, é outra história:
que o viés é a fresta de (se) ver.
(entre andanças e lembranças)

prédios vazios, pessoas na rua

Ainda com um gigante nó em minha garganta e muito comovida com a situação de tantas famílias retiradas de seus lares, à base da violência e da crueldade, na calada da noite gélida. Ainda, e cada vez mais, indignada com os que defendem e sustentam o que aconteceu na ocupação Lanceiros Negros e com as suas 70 famílias, ouso rabiscar algumas linhas. 
Do alto dos meus privilégios, consigo, ainda, mirar e olhar. Olhar e compreender que há um incrível problema de distância naqueles que não conseguem perceber tamanha brutalidade no que assistimos na noite passada e no dia de hoje. Tão perto e tão longe, essas pessoas estão/são. Não as conheço, nunca as vi... Mas são pessoas. Gente que trabalha e luta para sobreviver nesse estado cão, que as retira do pouco que ainda resta: seu teto. São famílias, são bebês, são crianças, são mulheres grávidas, são idosos... Seres humanos, como eu e como tu.
Talvez o problema de quem não os reconheça como cidadãos, como pessoas, como sujeitos de direitos, seja de posição. Posição na vida mesmo. Estes, quem sabe, sejam os mesmo que ladram por ai que “bandido bom é bandido morto”. Que estão acima do bem e do mal, acham correto julgar e punir pelas próprias mãos, que consideram quem não tem mais opções como desocupados e vagabundos. O problema da posição de DEsumanizar o outro, que não seja ele mesmo e seus familiares.
Talvez seja a luta de classes se materializando de modo inescrupuloso e ardiloso. Afinal, para que(m) servem pobres morando no centro da cidade e se mobilizando em transformar suas vidas? Há também o problema do direito. Ninguém pode tirar meu direito de ir e vir, quando há uma manifestação. Aos juristas da internet e da vida, que sentenciam, de barriga cheia e pés quentinhos, que ninguém tem o direito de invadir propriedades privadas ou, nesse caso, prédios públicos (abandonado há 12 anos), saibam que MORAR é um direito fundamental, assegurado pela constituição federal. Esse direito, de todos não só de alguns, é reconhecido pela ONU entre os direitos humanos.
Direitos Humanos, essa expressão tão citada e tão pouco praticada. Incompreensivelmente, a letra E de egoísmo chega antes, quem sabe, para essa fatia da pirâmide que deu certo. Os outros que se lixem, ou melhor, que vivam na condição de lixo. Tantos prédios e espaços vazios na nossa cidade abandonada e tantas pessoas sem um teto para cobrir seus corpos e, mais do que isso, para (re)existir. Pode ser, quiçá, um problema matemático, de lucro e imobiliário. As causas e as nuances são muitas. As arbitrariedades inconstitucionais também. Assim como na ditadura, os lares foram violados à noite! Lares são invioláveis, segundo o Art 5º. A ordem era retirar os invasores. A sentença era, por definição, sair. Ninguém sabe para onde e como.
Entre as famílias que moravam neste prédio, estavam 34 crianças - 6 delas bebês.
O corpo reclama,
paro um pouco!
Volto rápido,
é a escrita que chama...
Voa na noite quando é boa. 
(trabalhar, amar e não ter tempo para rezar)
Afetada por laços,
o que vem do outro é também sobre mim.
- sobre os outros que (me) habitam a existência.
c(alma),
há mais abraços do que dores!

digitando...


Na tela, um eterno digitar.
Intermináveis esperas
para o imediatismo das entregas.
Curiosidade arde,
codinome ansiedade.
O outro lado sabe:
palavra que vai, não volta!
-bom saber que ainda há quem pe(n)se as palavras antes de soltar!
Que assim seja, nas telas e nas retinas.

(Em) casa


Os caminhos quase sempre como escolha.
Um abraço vira a sorte,
melhora o horizonte
Quem sabe? 
(das surpresas boas da vida - que nada é por acaso?)

Novo tempo passageiro


Eu queria ter o tempo em minhas mãos.
Fazer correrem as pedras enquanto as piso a caminho de ti.
Não sentir o desperdiçar das horas com as inutilades diárias.
Sonhar que todo silêncio das noites fossem memórias.
Eu queria não sentir o tempo como peso.
Mesmo que, raramente.
Vê-lo passar sem amargar a saudade.
Ser só a vontade.
Queria não desejar controlar o tempo,
respirar o instante.
Leve, livre e dançante.
Eu queria fruir o tempo da tranquilidade.
Esquecer a pressa.
Tem sempre o hoje para me lembrar do ontem.
Tem sempre um amanhã carregadinho do meu hoje.
Tem o tempo a me dizer que não termina porque anoiteceu.
Eu queria me perder no tempo.
Ignorar a agenda.
Mas tem o prazo, tem a data, tem o horário.
Eterno plantar para colher.
Corre, corre, nunca acaba.
Às vezes, faço questão de lembrar.
Depois, esquecer.
Me dar ao tempo como entrega.
Deixar levar.
Adormecer.
Ser menos ponteiro, mais (c)alma.

com/passos

Nos compassos da vida, 
desejo ser aquela que busca.
Toda e qualquer (mu)dança 
pode ser bem-vinda. 
(das coisas grandes ou pequenas: ser inteira)

desa(DOR)mecer

Quando desa(DOR)mece...
Entrei na igreja, a qual a torre e o som são minha sina.
Entrei sem saber rezar, muito menos querendo pedir.
Entrei sem querer escutar, mas procurando respostas.
Entrei e sentei ao fundo, como a olhar a frente essa dor sem rumo.
Entrei com a esperança de lembrar da nossa intimidade, o sabor da amizade.
Entrei, logo a missa começou, a ligação desligou...
Saio em busca do silêncio.
Saio a procura das memórias.
Saio para construir os sentidos, entender os motivos tua perda repentina.
Saio e volto. Entro e permaneço com a angústia de quem não teve o tempo de te reencontrar.
Te resgatar.
Fica o desejo de que estejas bem aonde quer que vá.
Muita Luz!
Com amor, tua amiga "Clarita"

Navalhanavida


Páginas viradas, vejo nascer outro homem,
já tem outro nome.
Aquele que, apensar de suas dores, hoje, deseja rever seus amores.
Diz-se tentar, agora, aquilo que não foi,
quando não sabia.
Está ai a beleza da vida:
as chances só acabam no último dia.
(pelo dia de hoje
- pelo trasfor(a)mar do tempo)

tempo

O tempo é o meu avô, 
sentado na varanda, 
tomando chimarrão 
e contemplando (outra vez) a vida nascer.
Quatro rumos, 
oito ventos.
Outros destinos, 
caminhos,
estares
-para ser.
Destino (in)certo!
Lança-me, ao ar, feito as pétalas dessa flor:
mirando novos horizontes, telas e janelas; carregando tudo o que vi, o que senti e o lugar que parti.
Que a vida pode ter outros ares,
haja coragem. 

Saudade é:

Saudade é:
"O abraço!"
"quando a gente não tem bastante as pessoas..."
"eu quero você no amor."
"eu sinto quando não quero ficar sozinha!"
" é quando eu estou em casa e quero estar aqui."
"eu amo minha mãe, quero sempre junto."
"Assim: "(fazendo coração com a mão)
"É isso... "(abrindo os braços, bem esticados)
Não sei se, de fato, a numerologia funciona. Não sei se o destino é o caminho. Não sei se, ali na frente, há algo diferente me esperando.
Houve um tempo em que tudo isso era certeza. Vivi por alguns bons anos acreditando na promessa do tempo.
Por algum motivo, talvez um conselho acertivo, tenho levado a vida como a escrita:
Linha por linha, 
sentidos inscritos.
Rasuras e rabiscos,
na construção da minha versão possível.
Tomei a caneta da vida em minhas mãos. Sabendo, antes de (re)começar, que iria errar. Mas prometi que não jogaria mais meu caderno fora e não me omitiria em minhas escolhas:
Como o plantar e o colher, o escrever.
Hoje, paro para escrever cheia de carinho de tanta gente, de perto ou de longe; pessoas que me conhecem profundamente (ou há muito tempo) e pessoas que há pouco pude trocar olhares e, porque não dizer, AFETO!
Nesses últimos dias, fui inundada de afeto, que é recíproco até na surpresa. É muito bom gostar de gente e celebrar a VIDA.
É muito bom doar afeto e é muito bom saber que ele chegou lá...
E que, nas voltas que a vida dá, ele sempre volta. Dessa vez, voltou multiplicado... e a emoção ainda reverbera aqui.
Em dias tão duros, é um alento ver, ler e ouvir tanta sensibilidade e desejos de felicidade para o outro.
Caso o número 6, do meu ano pessoal, esteja mesmo "ativado", eu aceito e agradeço: "Tempo de família e amor"!
Como diz um aluno meu: "parece suficiente...".
Eu complemento: isso me basta para ser feliz. 
Quando o tempo não dá conta de juntar as pessoas e de fazê-las praticar o perdão e o amor, vem o sonho e realiza.
Se o caminho é longo, 
eu vou aos passos.
Cada vez, o primeiro é meu.

No (meu) trânsito


Transpassei:
E o que fui, só levo o que importa.
Transgrido! 
É que sou tudo o que me comporta.
Transbordarei?
E do que serei, basta abrir a porta.

anestesia


E a gente segue:
cegos,
sem olhar
para o lado, sequer.
Nada além do próprio pé se vê.
Tudo indo, tudo sendo...
Para quê pensar se não há sentir?
Cada um por si e Deus por ninguém.
Salvo são as exceções.
(sorte a minha)

caminhada

Hoje, durante nossa caminhada de domingo pela redenção, vimos uma sequência de três cenas que nos tiraram do nosso olhar de marasmo, nos furtaram dos nossos assuntos cotidianos e infinitamente pessoais. Esqueci até de reclamar do pessoal de verde amarelo que clamava pela intervenção militar na João Pessoa. 
A primeira foi uma atitude de cuidado com dois meninos indígenas. Um deles, bebê, chorava muito no colo de seu irmão. A preocupação do rapaz era tão genuína que transbordava o(s) olhar(es). Ninguém mais precisava tentar ajudar. Já tinha alguém completamente entregue e disponível.
Depois, dois senhores receberam pastéis quentinhos e ouvidos atentos às histórias que eles traziam. No final, vimos um rapaz que esperava ansioso pelo seu cachorro quente completo. Ele repita: “eu gosto com tudo, é completo.” O moço que pagava apenas disse: “Ele gosta completo, capricha aí...” Deu as costas e saiu, deixando um sorriso em quem tinha fome e em quem pode ver.
É bom voltar para casa com a sensação de que tem gente com sensibilidade para ver e generosidade para agir.
É bom começar a semana imaginando que cada uma dessas pessoas que eu vi estão mais felizes agora. Assim como eu.
Talvez, eles nem saibam, mas quem recebeu o que precisava foi quem assistiu!
Gentileza é coisa para pessoas grandes.

visita

Hoje, ela veio nos visitar.
Ficou, assim, paradinha.
"É de verdade?"
Perguntou a dona do presente. 
Tão tranquila que parecia mentira. 
É, a Esperança, às vezes, vem nos encontrar!
Basta mirar!

vida

Eu gosto de ver quando a nossa história não nos condiciona a ser.
Eu gosto de ver como as relações não se aprisionam em formas.
Eu gosto de ver as pessoas se abrirem para o novo e para o outro. 
Eu gosto de ver que dá para olhar para o passado de outro viés. 
Eu gosto de ver que o futuro pode ser diferente.
Eu só consigo ver com os outros.
Com_partilha/ndo VIDA

Sobre mudanças, panelas e lembranças:


Ontem, me peguei nas lacunas do silêncio, que apenas o estar só proporciona, lembrando e (re)vivendo um sentimento mais antigo do que minha existência. Aos poucos, mas com intensidade- que sou feita disso, tenho descoberto o quão transformadora a (minha) mudança de casa tem sido.
Eu já imaginava que ME mudaria, só não sabia por quais caminhos eu percorreria. Não imaginava o que cada coisa, cada parte desse meu novo universo significaria. Todos os detalhes, mimos e presentes trazem os Outros para morar comigo. Outros lugares, outras pessoas e outros tempos meus. De fato, morar sozinha é desafiador. Pode até, quem sabe, ser assustador! Pelo contrário, para mim, tem sido uma experiência reveladora dos outros que me habitam. Desde a forma de limpar a casa, a qual minha “faxineira fascinante Clarice” faz conforme minha mãe me ensinou; é mais do que tarefa, é prazer. Agora, as pequenas tarefas do cotidiano, estão desde um outro lugar, vivem no bairro do desejo de cuidar. Zelar pelo meu mundinho, ou, como diz uma grande amiga: “Teu ninho!”
Acho bonita essa expressão. Especialmente, para uma pássara que está aprendendo a voar. E aprende-se enquanto voa. Nesse processo, setembro voou junto com toda a minha expectativa e as ansiedades do longo agosto. Longo e necessário, esse tempo de gestar o junto e o só. Assim, a despedida do meu antigo “lugar” não foi, ela segue se construindo e se transformando. Se, algumas coisas mudaram, sinto que estão sendo para melhor. Às vezes, chegamos mais perto não estando sempre.
E, ao lembrar desse processo todo vivido em agosto, penso no momento no qual recebi da minha tia uma sacola com panelas. De antemão, ela me conta que essas panelas haviam sido da minha avó. Ela as tinha guardadas e não as usava. Recebi com toda a emoção. Enfim, teria algo herdado da vó Zilda. Ontem, então, ao testar pela primeira vez uma receita nova, escolho uma das panelas para usar.
Naquele momento, enquanto misturava os alimentos, meu pensamento se descolou. Ali, me veio a certeza que ficaria gostoso. Senti que não vivo, aqui, na solidão. Melhor seria, chamar de solitude. Senti a presença no presente. Senti minha avó dentro de mim, no desejo em fazer os outros felizes através da comida. Para ela, cozinhar era um modo especial de demonstrar seu amor. Para mim, também é. Senti que sou e carrego, através da transgeracionalidade, um legado transmitido por ela aos seus filhos e aos seus netos. Esse gosto de saudade, de amor e de entrega foram os melhores temperos que eu poderia encontrar nos meus armários (ainda) um pouco vazios.

escola

Horário de saída da escola.
Aquele movimento, aquela vida que pulsa barulhando. 
A menina vinha pulando, pendurando-se, brincando enquanto ía. A mãe vinha acompanhando, dando o tempo da infância sem perder o "time" da vida lá fora - que não para; e o ônibus não espera. Entre risadas, acenos e despedidas, ela dispara:
- Mãe, o que é ser revoltada?
No que a mãe, no meio do caminho entre a surpresa e a experiência, responde:
-Ah filha, é como alguém que gosta de usar roupas diferentes do que todo mundo acha normal.
-É, mãe! Então, tu também é revoltada... (o final foi com elas, aos passos).
Saem as duas, eu fico.
Parada, com o celular na mão, esperando o uber para andar duas ou três quadras...
Evitando riscos, desperdiçando minha liberdade.
Não sei o que suscitou a curiosidade sobre o assunto, mas essa menina, saiu da escola hoje, compreendendo mais a vida e as pessoas do que muitos adultos.
Quem sabe, se fôssemos um pouco mais revoltados e questionadores, não estaríamos tão presos em nossos muros e aplicativos?

La vita è bella

Noite de chuva...
Palavras bordam meus silêncios.
Me levam,
Lavam.
São caminhos para novos (uni)versos.
Versam tecidos, tecem em prosa:
o que sou, o que me traça.
Na travessia,
(me) basta ser só?
Vida é trama,
ser par na companhia.
Parceria.
Paz
Lado a lado, sem deixar de Ser.
Se a passagem é breve, melhor que seja leve.
La vita è bella

(cria)nça


Faz da areia, teu castelo.
Reconstrói tua casa com panos e caixas.
Com papel, faz voar...
Navegar por perigosas aventuras.
Terás espadas, escudos e poderes inimagináveis.
Podes ser fada, bruxa, bombeiro, lixeiro, policial ou ladrão.
Quem sabe um filhote ou um bicho bem grandão?
Criar, reinventar...aprender,
cair e levantar.
Às vezes, chorar.
 Só pelo aniversário esperar:
é tudo agora, é tudo aqui.
Um presente volátil, quem sente demora.
Quando vê, voou.
Sonhar com o crescer: “quero logo ser adulto para mais coisas fazer!”
Mal sabe ela a saudade que dá.

Vem a menina e me convida para brincar...

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Decorrer

Entro no beco, (não) é curto o caminho.
Te perco no escuro dos passos.
Só a sombra me lembra teu caminhar.
Olho para trás,
saudade carrega.
Voz, verbo!
Fecho meus olhos e sigo, não te esqueci.
Só,
ali.
Aqui,
estou...
Me vou.
Voei.
Chegou,
um oi:
Acordo!
Tu estavas ali.
Perdi!