segunda-feira, 18 de julho de 2016

Olhares em tramas.
Será que clamas?
Janelas e frestas:
Escapas em miradas.
Saberei o que passas?
Tens medo ou observas as jornadas?
Em silêncio, falas.
O tolo sou eu, que busco abrigo nas palavras.
Fotografia:  Sara Facio, Cielo y Tierra, 1963.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

( II )

( II )

Uma pausa, apenas, para quem não quer parar.
Nao conto os (com)passos, nem os que for dar.

To be continue.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Consertar



               Fazia certo tempo que a pia do banheiro parecia entupida. Com o passar das semanas a água foi, cada vez, demorando mais para descer. Eu andava em um tempo de trabalho intenso. Fui protelando. Fingindo não ver para não ter que fazer. Ontem à noite, foi a gota d´água: nem a desculpa do trabalho eu tinha mais.
           Desmontei, atenta ao organograma das tubulações. Tentei limpar, realmente a situação era critica. Vai lá na cozinha, aquece a água, busca um super balde e dá-lhe detergente. Aprendi que o que está grudado sai melhor no “molho”... Já era tarde e a chuva convidava.
              Dormi, sonhei, acordei algumas vezes, até que levantei. Como assim? Porque fui desmontar isso? Bueno, principio da realidade rompendo o prazer do saudoso ócio matinal e da rotina calma. Montei conforme minha memória permitia. Segura da minha autossuficiência, abri a torneira. Rá: pingos vazantes. Aperta aqui, aperta dali: nothing! Relaxa, tempo ao tempo. Está na quase na hora de sair.
Ao sair do trabalho, a ideia de que nem sempre podemos “consertar” as coisas martelava na cabeça e no coração. Ganho um colo daqui, divido uma palavra, troco amenidades e importâncias: como sempre tem sido a parceria das idas e vindas. Cheguei em casa determinada: cozinhar e consertar. Transformar?
             Cozinhei sem fome, mas garanti coisas boas para quando ela chegasse. Vim para o quarto e pensei que o quanto algumas coisas podem ter resultados bons quando nos empenhamos, quando investimos. Sempre é muito gratificante. Outras situações, simplesmente, fogem às nossas competências. São de outras alçadas. Talvez não tenha nascido para trabalhar com encanamentos. Prefira encantamentos e conexões, me parecem ferramentas mais aprazíveis.
          Mas como sem pia não dá pra ficar e o erro é a construção do acerto, vamos de novo. Desmonta tudo de novo e monta do mesmo jeito, mas já em outra ordem. Acontece que, ao secar as peças para fazer como manda o figurino, observei que uma borrachinha era lisa de um lado e côncava do outro. Resolvi colocá-la invertida, mas já sem expectativa, pensando em pedir indicação de alguém de confiança. Fiz devagar e sempre, enquanto conversava com as ideias. Não é que deu?
Sem moral da história. Apenas alguns caminhos para (re)pensar a hidráulica da vida ou as “Tecnologias do Eu¹”: fazer e refazer de muitos modos. Olhar por diferentes focos. Poder ser que, virando a borrachinha, ela faça mais sentido. Agora, não adianta insistir se faltam parafusos. Não, sem substitui-los.

¹. técnicas que permiten a los individuos efectuar un cierto número de operaciones en sus propios cuerpos, en sus almas, en sus pensamientos, en sus conductas, y ello de un modo tal que los transforme a sí mismos, que los modifique, con el fin de alcanzar un cierto estado de perfección, o de felicidad, o de pureza, o de poder. (FOUCAULT, 1990, p. 48,)
[ FOUCAULT, MICHEL Tecnologias del yo – Y otros textos afines. Tradução de Mercedes Allendesalazar. 1a. ed. Barcelona: Paidós Ibérica, 1990. 150p. (Coleção Pensamiento Contemporáneo, 7]