domingo, 28 de janeiro de 2018

Meu amor

Meu amor é pelo, é poro.
Fala, falo.
Meu amor é linguagem, paisagem.
Olhar, lugar.
Meu amor é aqui ou quando está lá.
Presença, ausência.
Meu amor é entrega, confiança.
Sem pressa, segue.
Meu amor é manhã, acordar devagar.
Noite, música.
Meu amor é mistério, surpresa.
Elogio, papo sério.
Meu amor é rotina, prazer.
Frio na barriga, louca para te ver.
Meu amor é saudade, vontade.
Espera, inspira.
Meu amor é Ilíada, mitologia. 
Prosa, poesia.
Meu amor é desejo mesmo quando não te vejo.
Sonho e pesadelo.  

Medo do meu medo



O medo de ir até a esquina
ou de não chegar até ali.
O medo da bala, do tiro que soa
seco por aqui.
O medo das vidas perdidas pelas balas soltas por aí.
O medo do ladrão.  O medo da polícia.  O medo da política.
O medo de ler nas manchetes o que a gente já vê ou finge que não.
O medo que aprisiona ou que faz viver no eterno (a)pesar.
O medo de andar sozinha
e ser reconhecida na fragilidade de ser mulher.
O medo do assalto, o medo do sequestro, o medo do estupro, o medo de ser invadida.
O medo ao escutar um barulho na porta, o barulho dos passos, o barulho da moto, o barulho da sirene das viaturas.
O medo do que o barulho causa dentro, nos segundos que voam -como horas- até que a respiração possa acontecer.
O medo ao imaginar que no morro a coisa tá pior. O medo ao não conseguir  imaginar onde essa onda irá nos levar. E que, aqui, é  só a ponta desse iceberg.
O medo ao pensar que alguém lucra com esse sofrimento todo. 
O medo de não sentir mais medo
e levar a vida acreditando que isso tudo é normal.
O medo da violência que mora dentro de nós quando o medo vence.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Escada



Já falei da janela,
hoje é a imensa escada que visito:
sussurros, risadas e segredos.

Quem, na ingenuidade da idade, poderia escutar tal 'verdade'?

A criança que fala - e não perdoou- vive, ali, no adulto a repetir. 
Repetindo, acredita.
A culpa é de quem deixa o sofrimento para ser livre?
Santos são os homens, a quem a natureza sempre salva.

Escondida, me recusei a aceitar essa gaiola.
Se a menina que fui não nasceu com asas;
é nas palavras que busco força para voar. 
Hoje, exposta!

Ponte

Lembro-me daquele olhar.
E, basta o olhar para ser.
Nada ficou do que era,
nem eu mesma.

A lembrança -apenas- teima
em fingir ou inventar essas histórias.
Facetas.
Reais ou não,
cristais do ontem.
Rastilhos do que interessa,
sustentando a ponte que me trouxe.
(Aqui)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Do (a)mar em Minas Gerais


Que os horizontes se completem no traçado do olhar
Mesmo que não haja o mar, seja possível sonhar:
viajar em cada onda de pedra ou de ar.
Que os destinos se cruzem  na vida.
Ainda que seja de surpresa, será bem-vinda:
cada encontro celebrado nas despedidas.
Que os encantamentos sejam o tempero da entrega.
Doar-se e receber, sem espera.
A saudade, que antes de ser,  já nasce.
Prenúncio de nossas vontades.
Que sejam os atos a coroar as palavras.
Os toques, (con)textos.
Teu ar, pretexto para amar... Mais e mais,
Te admirar.