quarta-feira, 30 de julho de 2014

Nota sobre uma caminhada em um lugar longínquo: O estrangeiro que habita em nós




Quem tem o olhar curioso sabe o quanto é interessante observar os tipos diferentes que (co)habitam as ruas conosco. Nosso olhar estranha, muitas vezes, o excêntrico, o que foge a nossa iludida noção de normalidade. Acima do bem e do mal, identificamos o que “narcisicamente” não reflete em nosso espelho. Repetimos as miradas, num ciclo vicioso, sem sequer darmo-nos conta de toda a construção sociocultural que está imbricada em nosso ato de olhar. Para além do ver, olhar é focar, é fixar, é enquadrar, é recortar, é um ato político.

Mas no jogo das imagens, no reverso do espelho há tantos e tantos outros espelhos. Nenhum de nós escapa, em um dado momento, de ser o estrangeiro. O mesmo olho que olha também é olhado: Dai somos nós que  nos sentimos como o Outro, recai sobre nossa  pele o peso da diferença.  A virada de posição desconforta, desloca os sentidos que construímos sobre a imagem ideal/normal. A grande “sacada” é quando essa situação pode se tornar um acontecimento, na medida em que podemos acolher a alteridade de quem nos olha, suscitando a formulação de novas compreensões sobre nós mesmo na relação com esses diversos outros, esses múltiplos reflexos dos espelhos... Saímos do umbigo do mundo e nos reconhecemos como mais um estrangeiro de algum lugar, qualquer lugar. Nesse encontro cruzado de olhares há mais possibilidades do que podemos imaginar para encontrarmos nós mesmos...

terça-feira, 8 de julho de 2014

Acordei, como todos os dias, com mais sono do que quando deitei. Antes mesmo de levantar, dei a olhada básica no celular, conferindo as notificações do FB, e-mails e tudo mais... Fui arrastando-me até a cozinha, com minha preguiça existencial,  a fim de pegar um café forte tipo “acorda, tá na hora!!!!!”.
Fui tomando, despertando,  meu cérebro reiniciou com suas sinapses. Ai que, me deu aquela vontade de escutar música... tá, mas sempre dá, faz parte desse ritual matinal... acontece que não era samba.
Sr., Youtube, me dá um Lenine?
Ele me deu, deu um inédito (pra mim)  nos meu quase 30! “Todos os Caminhos”.
Foi ai que o papo ficou mais sério, vou falar direto com Lenine:
Isso não se faz, rapaz! Não se dá um soco no peito de uma “donzela”  que acabou de despertar... Despertar no sentido mais amplo que se possa ter,  acordar pra vida... entende?
E, digo mais, já ando fazendo esse tema de casa:
Dos mistérios, de não levar a vida tão a sério, já sei que a vida é incerta, que o futuro é sempre imprevisível... E, certamente, por isso que amo tanto viver! Aliás, posso dizer, que por muito tempo improvisar, sair do roteiro foi o que  fez eu me sentir viva, um pouco mais dona de mim.
Como aprendi que o mais importante aprendemos na dor:  Obrigada, Lenine, vou escutar tua música pela 9374500 vez. Já não dói tanto!

https://www.youtube.com/watch?v=_I17I6mRgec&list=AL94UKMTqg-9DOCfH7n6vfjiRh-QDvCw8s



domingo, 6 de julho de 2014

carteiro/poeta

A espera pelo carteiro nem sempre é algo tão prazeroso
Na contemporaneidade, ele te traz contas, avisos de pagamentos, propagandas indesejadas...
Traz tuas faltas, tuas dívidas e o lixo desnecessário.
A verdade que não mandamos cartas e queremos recebê-las.
Aliás, há quem nunca as tenha escrito, nem recebido.
Mas elas podem chegar e, às vezes, chegam por outros meios.
Na era das telas, chegam fragmentadas em pequenas mensagens...
São compartilhadas sem privacidade, nas grandes caixas de memória que criamos no "céu" dos megabytes.
Não menos deliciosas de serem lidas
Não menos surpreendentes em suas revelações.

Tem um "carteiro" que, ludicamente apelidado, às vezes soa, retumba na minha caixa de correio virtual...
Traz, em suas palavras, doçura e deboche.
Tem uma sagacidade, um devir artista, um olhar para a vida cotidiana que encanta.
Carteiro poeta, continue... tua escrita é vida, para ti, para mim e para os outros "provincianos".

sábado, 5 de julho de 2014

Pessoas...

Algumas chegam sem avisar e bem devagarinho vão ganhando espaço em nossas vidas.
Outras chegam, fazendo barulho, permanecem por um tempo... mas não chegam a criar laços.
Algumas passam, mas não chegam a fazer parte.
Há outras que sempre estiveram ali, ao nosso lado. Mas de uma hora para outra precisam viver outras experiências, outros momentos....
Encontros de alma, de nascimento, de amizades, identificações...
Isso fica! 
Permanecem as marcas, permanecem as trocas, permanece o afeto!
Fica o desejo de reencontrar  e a saudade de quem vai para longe... 

BORbuLHAnte

De ideias, minha cabeça borbulha.

Borbulha de dúvidas. Bolhas de possibilidades.
São tantas a invadir meu pensamento que mal posso vê-las.
São rápidas, vão de um lado para outro, chocam-se e somem em gotas pingantes.

Ideias-foguetes, criatividade-cometa!
Fogem, escapam pelo ar.

Como eu queria que fossem como borboletas.

para Bel, mesmo em caminhos distantes


Pela beleza de saber viver, sorrir, brincar e amar...
Pela beleza de uma amizade que deixa o caminho mais colorido e que ajuda a ver o mundo de um modo diferente...
Pela beleza de uma infância que também não sai de ti...
Por todas as tuas belezas, que nem podem ser enumeradas...
Os pesadelos são tão pequenos que podemos rir na manhã seguinte.
Pelas belezas que carregas em ti... 
A Felicidade é insuportável e infinitável!

Desesperadamente louca... louca com as palavras


Se pesquisar é buscar o que ainda não conhecemos a escrita acompanha os caminhos, descaminhos desta busca, da construção às vezes em terrenos inseguros. Nas palavras de Rosa Montero: “A construção da própria obra é um esforço constante para escrever na fronteira do que você na sabe ” (2004, pg 119)
Escrever na fronteira, no limite é como caminhar em um terreno embarrado, empoçado. Em alguns momentos encontramos pedras firmes e seguras, mas logo as pedras ficam escassas. Não outra solução, senão deixar-se sujar pelo barro e pela certeza da ignorância, do não saber.
De certa forma, escrever exige algo a mais do que conhecimento, exige uma certa dose de humor criativo. O que fazer quando não há mais pedras por perto? Quando a lama já lhe chega aos joelhos? Dou-me conta que não sei... ainda não!
Nessas horas é que a lama gelada, o vazio de idéias pode servir como provocador. Os olhos do gato que brilham no escuro, piscam... pode ser interessante olhar para baixo, para suas roupas imundas e perceber as suas perguntas, suas dúvidas... O que mesmo lhe angustia? O que mesmo lhe faz querer ser pesquisador?
Logo algumas pedras aparecem, leio, busco, penso. Minha cabeça dói. Outras pedras vão surgindo. Leio, risco, rabisco enquanto me sinto uma criança fazendo garatujas, em busca de formas e sentidos. Depois é preciso voltar, sair, respirar. Tomo um copo de água tão gelada que possa me dar certeza que estou viva, que não sou só as letras que escrevo. O que escrevo é invenção, é construção, minha.

Referência Bibliográfica:
MONTERO, Rosa. A louca da casa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

Re: Shhh...

O Silêncio...
espaço de pensamento,
buraco onde falta o saber,
o não-lugar.
Quando não falo, digo algo...
algo impossível,
indizível,
mas pensável.
Quando calo, olho para dentro,
procuro-me nas lacunas das palavras.
Sim, como é frágil... é insuportável conviver com ele.
Talvez cale por não querer me escutar. Até descobrir um suspiro, uma palavra qualquer que me faça fugir dos pensamentos infames.

Provocada por... http://simulacrosreais.blogspot.com/2011/04/shhh.html

sentimentos noturnos

Medo P/M/G

Ela tinha muitos medos
Os carregava sempre, desde que levantava até a hora em que dormia. 
Às vezes, eles ainda vinham a perturbar durante os sonhos.
Alguns eram seu martírio, outros sua cura. 
Eles eram de todos os tamanhos.
Mas os piores, eram os médios... 
Esses, sim, eram os piores, os mais perigosos. 
Dos pequenos, ela tinha um riso debochado, media-se com eles.
Dos grandes, ela fugia, não passava nem perto. Esses não teriam chaces tão cedo.
Os médios, como toda coisa morna, são do tipo que nos engana.
Lobo em pele de cordeiro,
Não é doce, nem bárbaro...
Não tem mistério, nem é escrachado...
É bege, passa discreto...