sábado, 17 de janeiro de 2015

Um novo amigo: Kairos!



Nesse (com)fuso tempo do ócio há uma sensação que arde!
Sensação de perder-se nas horas, nos dias. Qual é o tempo?
 É um outro tempo: se quando durmo, tu logo acordas.
Há uma sensação de liberdade ao viver sem os ponteiros de Kronos. Os mesmos que regem os meus dias.
Fazer-me viva, conforme a chuva e o sol.
Eu penso: Espera, temos tempo!
Sinto falta, mas logo chega.
Afastei-me, por instantes, do tempo medido, do movimento regulado e do horário marcado.
Se era para ser um tempo para mim, que seja uma temporada minha por experiência. Uma turnê interna. Que seja o meu tempo no cotidiano.
Instante presente.
Tempo de saber-se só. É tempo de saber-se junto. Em um conjunto, sem fusão.
Para saber se vou agora ou depois, é para o céu que olho.
Saio do Kronos de um ano, em busca de Kairos. Não é infinito, mas é tempo  bem vivido.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Diário de bordo!

Viajar para si
Nuvens perdidas na imensidão azul. 
Belas e macias no céu, anunciam um horizonte com mais sol. 
E os pensamentos "voantes"...
Daqui, não posso te ver, nem consigo imaginar para que lado estás. 
Teus passos, teus rastros, teus sons e palavras estão apenas em pequenos registros de memória.

Baú


Te vejo caminhando pela vida como quem arrasta uma carga sobre-humana. 
Deve ser mesmo dolorido carregar um baú tão pesado de mágoas e de lembranças.
Olhar-se no espelho e ver-se revelado nos fantasmas do passado parece ser quase insuportável. 
Por aqui, fico em paz. 
Só de me importar, já sinto que, em mim, o desprezo não mora mais.
E isso já é quase como perdoar.
A vida está mais leve e me vejo pronta para voar.

Tire seu machismo do caminho, que eu quero passar com o meu corpo!


    A gente não esquece quando acontece conosco. Quando é a nossa vez de sentir na pele a violência que vem do machismo. Poucos dias atrás foi a minha irmã. Todos os dias alguma mulher é vítima. Seguidamente leio relatos desse tipo por aqui. Mas a verdade é que a gente nunca sabe quando a barra vai pesar pro nosso lado. A gente nunca espera que um louco desvairado vá tentar algo que a gente não quer.
    Estamos todas vulneráveis: no rio, em poa ou em qualquer lugar do mundo. 
    Não importa o local: nossos corpos ainda são vistos como objetos de satisfação masculina. 
   Eis a cena: domingo, desço na estação de metrô Cantagalo. Caminho uma quadra e o fato se dá. Numa embretada, sou atacada como se não houvesse limite entre meu corpo e a rua. Por sorte, não me faltam pulmões: gritei como se fosse meu suspiro final, como se fosse minha última chance. 
Mas sei que nem todas as mulheres têm a mesma sorte que eu tive. Haviam pessoas e havia luz na rua ainda. Também fui ajudada por meninos que, inclusive, já conheciam o meliante. Ao ser questionado, me acusava: " Ela tá louca... Não fiz nada".

   Sai caminhando sem rumo, sem prumo.
  Como se não houvesse amanhã. Louca, ali sim, pelas ruas eu andava. Parei numa farmácia. Procurava ar para respirar. Tentei falar com algumas pessoas mais próximas. Foi inútil, naquele instante. Caminhar amedrontada por ruas tão belas foi terrível. Só eu senti. Sentia o asco do toque nojento de um desconhecido. Depois falei, coloquei para fora. .. encontrei amigos. Cantei e me alegrei. Mas eis que ao encontrar o travesseiro a dor da lembrança volta. E o alívio do " podia ter sido pior" não soa como um bálsamo. Dói. As lágrimas hão de correr mais um pouco. E a vergonha de compartilhar essa história de violência vai embora quando lembro das mulheres queimadas como bruxas. Mais tarde dos sutiãs em fogueiras, de todas as grandes lutas e agora das " vadias" aguerridas que mostram suas caras. Não, não vou calar mesmo que possa parecer pouco. Mesmo que isso possa me expor. O silêncio consente e com isso não posso concordar