sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tire seu machismo do caminho, que eu quero passar com o meu corpo!


    A gente não esquece quando acontece conosco. Quando é a nossa vez de sentir na pele a violência que vem do machismo. Poucos dias atrás foi a minha irmã. Todos os dias alguma mulher é vítima. Seguidamente leio relatos desse tipo por aqui. Mas a verdade é que a gente nunca sabe quando a barra vai pesar pro nosso lado. A gente nunca espera que um louco desvairado vá tentar algo que a gente não quer.
    Estamos todas vulneráveis: no rio, em poa ou em qualquer lugar do mundo. 
    Não importa o local: nossos corpos ainda são vistos como objetos de satisfação masculina. 
   Eis a cena: domingo, desço na estação de metrô Cantagalo. Caminho uma quadra e o fato se dá. Numa embretada, sou atacada como se não houvesse limite entre meu corpo e a rua. Por sorte, não me faltam pulmões: gritei como se fosse meu suspiro final, como se fosse minha última chance. 
Mas sei que nem todas as mulheres têm a mesma sorte que eu tive. Haviam pessoas e havia luz na rua ainda. Também fui ajudada por meninos que, inclusive, já conheciam o meliante. Ao ser questionado, me acusava: " Ela tá louca... Não fiz nada".

   Sai caminhando sem rumo, sem prumo.
  Como se não houvesse amanhã. Louca, ali sim, pelas ruas eu andava. Parei numa farmácia. Procurava ar para respirar. Tentei falar com algumas pessoas mais próximas. Foi inútil, naquele instante. Caminhar amedrontada por ruas tão belas foi terrível. Só eu senti. Sentia o asco do toque nojento de um desconhecido. Depois falei, coloquei para fora. .. encontrei amigos. Cantei e me alegrei. Mas eis que ao encontrar o travesseiro a dor da lembrança volta. E o alívio do " podia ter sido pior" não soa como um bálsamo. Dói. As lágrimas hão de correr mais um pouco. E a vergonha de compartilhar essa história de violência vai embora quando lembro das mulheres queimadas como bruxas. Mais tarde dos sutiãs em fogueiras, de todas as grandes lutas e agora das " vadias" aguerridas que mostram suas caras. Não, não vou calar mesmo que possa parecer pouco. Mesmo que isso possa me expor. O silêncio consente e com isso não posso concordar

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