quarta-feira, 30 de julho de 2014

Nota sobre uma caminhada em um lugar longínquo: O estrangeiro que habita em nós




Quem tem o olhar curioso sabe o quanto é interessante observar os tipos diferentes que (co)habitam as ruas conosco. Nosso olhar estranha, muitas vezes, o excêntrico, o que foge a nossa iludida noção de normalidade. Acima do bem e do mal, identificamos o que “narcisicamente” não reflete em nosso espelho. Repetimos as miradas, num ciclo vicioso, sem sequer darmo-nos conta de toda a construção sociocultural que está imbricada em nosso ato de olhar. Para além do ver, olhar é focar, é fixar, é enquadrar, é recortar, é um ato político.

Mas no jogo das imagens, no reverso do espelho há tantos e tantos outros espelhos. Nenhum de nós escapa, em um dado momento, de ser o estrangeiro. O mesmo olho que olha também é olhado: Dai somos nós que  nos sentimos como o Outro, recai sobre nossa  pele o peso da diferença.  A virada de posição desconforta, desloca os sentidos que construímos sobre a imagem ideal/normal. A grande “sacada” é quando essa situação pode se tornar um acontecimento, na medida em que podemos acolher a alteridade de quem nos olha, suscitando a formulação de novas compreensões sobre nós mesmo na relação com esses diversos outros, esses múltiplos reflexos dos espelhos... Saímos do umbigo do mundo e nos reconhecemos como mais um estrangeiro de algum lugar, qualquer lugar. Nesse encontro cruzado de olhares há mais possibilidades do que podemos imaginar para encontrarmos nós mesmos...

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