Quem tem o olhar curioso sabe o quanto é
interessante observar os tipos diferentes que (co)habitam as ruas conosco.
Nosso olhar estranha, muitas vezes, o excêntrico, o que foge a nossa iludida
noção de normalidade. Acima do bem e do mal, identificamos o que “narcisicamente”
não reflete em nosso espelho. Repetimos as miradas, num ciclo vicioso, sem
sequer darmo-nos conta de toda a construção sociocultural que está imbricada em nosso ato de olhar. Para além do
ver, olhar é focar, é fixar, é enquadrar, é recortar, é um ato político.
Mas no jogo das imagens, no reverso do espelho há
tantos e tantos outros espelhos. Nenhum de nós escapa, em um dado momento, de
ser o estrangeiro. O mesmo olho que olha também é olhado: Dai somos nós
que nos sentimos como o Outro, recai
sobre nossa pele o peso da diferença. A virada de posição desconforta, desloca os
sentidos que construímos sobre a imagem ideal/normal. A grande “sacada”
é quando essa situação pode se tornar um acontecimento, na medida em que
podemos acolher a alteridade de quem nos olha, suscitando a formulação de novas
compreensões sobre nós mesmo na relação com esses diversos outros, esses múltiplos
reflexos dos espelhos... Saímos do umbigo do mundo e nos reconhecemos como mais
um estrangeiro de algum lugar, qualquer lugar. Nesse encontro cruzado de
olhares há mais possibilidades do que podemos imaginar para encontrarmos nós
mesmos...
Bonito, Clara. Mais um belo texto. Parabéns! s2.
ResponderExcluirObrigada, Thiago. S2 amigo bjosssssss
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